quarta-feira, 2 de maio de 2012

Mulheres e listas


 

Mania de organização, ócio puro ou efeito colateral do cérebro que, mesmo depois de um dia cansativo não consegue desativar os mecanismos e descansar? O fato é que mulheres e listas acabam sempre marcando encontro ao deitar no travesseiro, no final da noite.

Dos mais variados tipos e sistemas, listar mentalmente ou num papel, em ordem ou apenas como lembrete é mania feminina, sim. Pode ser a dos afazeres logo após o trabalho, do que fazer no próprio local onde se ganha o pão, daquilo que precisa-se dizer ao namorado - e não pode, de jeito nenhum, maneira existente, esquecer - lugares para ainda conhecer, acessórios, roupas e calçados que o armário pede, de como foi o dia, daquilo que precisa se esquecer, de quem fugir, do supermercado. Até disso a gente faz questão de lembrar. Lista negra, de doação de inverno, das amigas mais queridas, discos que precisamos escutar, dos familiares que merece uma ligação, qualidades que precisam ser floreadas, defeitos que requerem maior atenção.

Mesmo quentinhas sobre uma coberta ou duas, pegamos o papel e nos damos o trabalho de anotar, rabiscar, numerar, colocar no pódio aquilo que precisa de realce para não se esquecer após uma boa noite de sono, do que pela manhã, ainda bêbada de sono, possa não fazer o menor sentido - mas no calor das horas noturnas passadas, tinha urgência quase que cirúrgica, anotado com letra feia de quem escreve no escuro e com pressa apenas para se livrar do peso de ser um pouco desligada mesmo e, ao mesmo tempo, ter tanta coisa a se fazer em apenas 24 horas.

Imaginárias, na caderneta, numa agenda, em pedaço de jornal: mulheres gostam de listas. Se fascinam por rankings - a mais bem paga, a mais gostosa, a melhor mãe, o corpo mais em dia, o gato mais sarado, a colocação dos best-sellers, apreciam ter um rol de possibilidades, poder ver por meio de uma lista (ou linha) fatos históricos, memórias descuidadas, desejos que precisam de saciedade, alternativas para sobreviver com a mente bem arquitetada e um plano de rota, de fuga, de escape de si mesma, para se manter vivas. No melhor sentido que o verbo emprega, claro. Livres.