sábado, 5 de maio de 2012

Ser feliz incomoda muita gente

 


Expor isso incomoda, incomoda muito mais. Tem que ficar quietinha, conter o sorriso, frear as palavras, engavetar os detalhes todos daquilo que nos compõe livres, leves e soltas. Porque, lá no fundo, a gente sabe - só não se segura e comenta com amiga linguaruda de vez em quando pra desafiar o perigo, tirar dos ombros o peso de um segredo que nos faz feliz, desses que aumentam os decibéis da inveja de quem escuta e nos vê pairando ruas a dentro.

Ser feliz incomoda pela abstrata diferença entre quem considera todos os dias de merda e, quem nem liga tanto se pisa em poça molhada, recebe mijada de chefe, escuta barbáries ou tem a conta bancária muito mais estancada que corrente, parada no vermelho do limite do cheque especial. Ache um amor pra vida e seja objeto do resto de mal amados e cotovelos doloridos. Trabalhe naquilo que ame, com afinco, sucesso, dinheiro e tempo livre: terão os odiosos prazer em detestar alguém assim, contente naquilo que pro resto de todos é pura parte responsável de vida. Ter um corpo bacana, viajar sempre que quiser, puder e sem parar, adquirir o carro do momento ou simplesmente, ter talento e um pouco de sorte para conseguir sobreviver a um bufê de olhos gordos, línguas grandes e afiadas e cabeças quentes de olhos furados pelo seu espírito de paz. Tão fácil compreender o mood alegria que, a maioria se nega.

Receita não existe, conselho é tudo furada. Portanto: sejamos insuportáveis, de tão felizes. Claro que nem tudo está sempre uma maravilha. A gente às vezes pega ônibus errado, taxista oportunista, esquece pertences e dá um puta azar quando menos poderíamos. Ou ficamos doentes e temos a visão do mundo em slow motion, perdemos dinheiro, somos vítimas de uma chuvas daquelas desprevenidos. Porém, foda-se. Lembra daquele sorriso bom trocado no carro? Das frases curtas de amor antes de dormir? Do abração tamanho GG daquela amiga? Do elogio daquele professor difícil e carrasco? Incrível mesmo como a sorte passa pela gente e, distraídos num muro de lamentações sem saída, toca de leve e ninguém sente.

O fato é que gente naja vai estar sempre a solta e à espera de um tropeço, da baixa imunidade da sua auto-estima, do dedinho preso na porta do carro e o uivo de dor com a codificação da sua voz. Elixir, remédio, prevenção: sorria, meu bem. Sempre que possível. Não é falso sempre, porque por mais que decline um dos lados da vida, há outro em primeiríssimo em cima de um pedestal do bom dessa vida. Basta que não deixemos de olhar pra fita no dedo, pro balanço final momentâneo da existência, mensagem bonita salva no celular, visita inesperada num final de tarde com sol se pondo, é olhar pra cima e encontrar motivos coerentes para agradecer. As najas que saiam feridas com o próprio veneno, quem veio pra esse mundo que faça o favor a si mesmo de sorrir!