quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Bem de algumas brigas ocasionais

Sendo muito sincera: desconfio de casal que não briga. Em que ela é conivente com tudo, e ele acaba aceitando os piores desaforos possíveis. Sim, temos que ter uma paciência praticamente santa quando em um relacionamento. É preciso que se converse no lugar de gritar, e que se argumente, ao invés de apenas fazer cara feia e usar da rispidez para atingir o outro. Porém, quando escuto de um par qualquer à minha frente que diz se amar e nunca discordou, ficou de mal por alguns minutos e teve o gostinho das pazes logo então.
Claro que também não sou a favor de que dois pombinhos que sentem amor um pelo outro vivam em guerra, aproveitando juntos os poucos momentos de paz. Brigar dá aquela dor de cabeça latejante depois do choro escandaloso, muitas vezes deixa ferir nosso ego as palavras venenosas do outro, proferidas em momento de raiva súbita, e desgasta, a longo prazo, todo e qualquer relacionamento. É cansativo. Deve-se evitar quando a mulher está de TPM, e o time do cara perdeu. São os tais momentos em que a gente faz uma forcinha, e pensa nos momentos bons já passados juntos, e releva porque no final das costas tem valido muito a pena. Algumas discussões, de tão relevadoras, acabam até mesmo vindo para o bem. Nos fazem adaptar a própria personalidade à do outro, aos poucos, e conhecer nos instantes de fúria, quem é mesmo o rapaz carinhoso que se transforma quando cutucado sem querer - ou a mocinha dengosa que, de repente, se torna fera ferida.
No geral, contudo, conflitos a dois são normais. Falamos que nunca mais ocorrerão, prometemos que daqui em diante controlar os impulsos destrutores é mais importante que a dieta em prol do verão, e rumamos para a reconquista logo depois da reconciliação. E quem não briga, como funciona? Vai guardando para si tudo aquilo que detesta e não diz, acumulando um desgosto por fazer mais a vontade de quem ama que a própria, e denegrindo, aos poucos, a imagem imaculada que tenta salvar lá do início da relação, quando tudo se resumia em dias core-de-rosa, descobertas encantadoras e aquela sensação de novo que o cheiro, o toque e a singularidade de cada um nos dá. Não lutam por suas opiniões, deixam de discutir seus ideiais e aceitam tudo como quem não merece nada além. Até que um belo dia o motivo é grande, o bateboca é intenso e, numa explosão repentina: fim. Acabou-se o amor que aos poucos já andava se extinguindo e nenhum dos dois olhou atentamente.
Defendo então, de maneira inédita, o meio termo. Que se brigue de vez em quando, faça as pazes quase sempre, e desbrave o território do par com parcimônia, mas tendo em mente que o que importa é que se chegue ao comum acordo de vez felicidade tanto no próprio rosto, quanto no de quem a gente mais prefere no mundo. Que o mundo pareça o pior lugar para se estar, quando ocasionalmente os conflitos ebulirem o sistema nervoso, que a gente sinta a sensação de perda momentânea apenas para sermos homéricos e salvadores assim que deixemos enterrada no passado próximo o caos de momentos antes. Que a gente tenha ciência que o gosto amargo de agir com consciência própria e voracidade - de vez em quando - se torna sutil e suave, a longo prazo. Porque quem ama, é afeto inteiro. E quer a parte completa do outro também. Ainda que isso carregue consigo um tanto de atitudes que desaprovamos, ideias distintas ou manias insustentáveis. A amar ainda mais (apesar de, ainda que, mesmo assim), vai por mim: a gente aprende.