terça-feira, 29 de novembro de 2011

A roupa, não.


Um belo dia, ele vai falar da sua roupa. A tentativa será sutil: nada que dirá diretamente que você está gorda, bizarra ou vulgar. Lógico que não. Mas de repente, perguntará o que mais você trouxe, além daquela saia. Poxa, eu gosto mais daquela blusa. Por que você não coloca aquele outro vestido (que na verdade, usa pra ficar em casa ou ir no trabalho, bem distante das comemorações e saídas oportunas dos finais de semana). Acho as blusas com esse tecido - que é a renda, claro - que você tem um tanto "estranhas". E se você só levou duas ou três mudas, já tendo planejado a semana toda que usaria aquele top cropped com o short cintura alta, e cinco minutos antes de sair escuta alguma infâmia dessas, o mundo de repente para. Se estiver de TPM, acentua: como assim? Eu vou com essa roupa, sim senhor. Qual é o problema? Pois trate de me falar, e já. Ah, não gostou? É só isso? Desde quando a pós-graduação em Moda feita em Paris que eu não sabia? Enfurecemos, é óbvio.

Vasculhamos o armário, ou a singela mala que levamos apenas para passar um dia, dois, longe de casa. Nada que sirva. Na verdade, no corpo sim: mas não para a ocasião, e com maior certeza ainda, não para o nosso humor no momento. Ele quer ajudar. "Deixa eu ver o que tem aqui". Palpita pelo vestido curtíssimo, mas implicou com o traço de cerca de quatro dedos de barriga de fora que você havia vestido, sentindo-se radiante. Experimenta. Detesta. Troca o biquíni, tenta um camisetão, e nada. A vontade de ir praticamente esvaziando a paciência; a autoimagem, quase destruída: uma monstra sem peças decentes que montem algo criativo e que fique bem no corpo no improviso. Frustração notada. Reclamações possíveis: mas amor, tá tão feio assim? Acha mesmo? Tá, tudo bem, mas agora mesmo que eu vista, vou me achando horrorosa. Não sei o que fazer. Perdi a vontade de ir. Não se faz isso, viu? Não num sábado de manhã, nem dez minutos antes de sair, e muito menos com uma mulher em TPM. Sem falar nas quantas e tantas vezes que saímos com eles estando com traje de dormir, camiseta furada ou de viagem, calção de academia ou combinação estranha, sem nem comentar nada? Por que roupa importa sim, mas é mais quando trajadas em nós, que nos queridos.

Saíram meses juntos, e nem um pequenino comentário quanto ao seu comportamento vestido. Um "mas vai de meia-calça, né?", quando o short era hot pants, quem sabe, e só. Esse tempo todo, me achou cafona e não disse? Por que está comigo, então? E às vezes é ciúmes, noutras uma posse meio cega de deixar que a gente mostre por aí pedacinhos, parcelas, traços que apenas ele vê. Dito então "Estou com ciúmes, tá bonita demais", e fim. Mas homens, graças a deus, são homens - e falta o tato em dizer o que realmente desejam, na maioria das vezes. Sim, algumas vezes é mera opinião, e devemos levar em conta, afinal, é quem sairá conosco de mãos dadas ruas afora. Porém, quando for apenas esse desejo de gostar de ver mais roupa e menos corpo de fora, sejam além de diretos, centralizados no foco em questão: um ciuminho talvez, com uma pitada de opinião própria de quem (quase sempre) não leva a moda a sério. Por isso, opinem no que bem entenderem, com alguma cautela, contudo: viagens, faculdade, emprego e até mesmo família. Agora, a roupa não, rapazes. Suplicamos!