sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Relationshit







Se auto enganar é arte de moça. Junto ao bordado, à limpeza e aos dotes culinários, vem com aqueles valores arcaicos repassados pela vovózinha, sem ter espaço no dia a dia louco do século XXI. Ele vai mudar com o tempo, ou quem sabe, eu apenas tenha que compreender que é o jeito dele e fim de papo. Me traiu uma vez, duvido que faça a segunda. Vou dar só mais essa chance, não consigo viver sem o homem dos meus sonhos (melhor com, pior sem), e assim, está exercitado o caminho espacial pra ver o relacionamento se tornar, aos poucos, uma bela merda.

Além da vontade de chacoalhar essas meninas que se enganam em amores tóxicos com gente instável, relações de poder onde não possuem o menor espaço seja para opinar, ou tentar qualquer inovação, eu sinto muita pena. Tendemos a achar que os problemas que enfrentamos a dois são os piores do mundo, até que: escuta-se amigas próximas. E não entende como aquela colega aceita ser chamada de exu pelo cara que ama. Ou, como pode aguentar calada a cabeleireira apanhar de vez em quando, porque pro marido - a quem ela não denuncia, nem revida, nem nada disso - um tapinha não dói e sadomasoquismo está em alta como fetiche masculino. Tem aquela amiga que namora, mas mal faz sexo. E pior: acha normalíssimo. Assim como aquela outra que finge estar tudo bem e tudo lindo, quando no fundo (e a gente que é mulher, sempre sente) está é bem conturbada e triste porque, mesmo depois de meses, nada de o rapaz falar em compromisso, apresentar pra família, ou essas pequeninas paranóias que os padrões plantam na mente feminina - e que a gente sempre cai.

Sou parte dessas gentes que é revolucionária na vida, e também com quem compartilha a vida. Sempre a favor de um melhor entendimento,  tentar adequar as manias, irretocar o já maravilhoso para que não se perca nunca o brilho interessante de quando se começa a descobrir o outro; ser uma eterna insatisfeita tem algum lado bom, querer sempre mais do que existe de melhor não me agrega culpa nenhuma, muito pelo contrário: é um perfeccionismo para o bem geral, não apenas egoísmo disfarçado. Me revolto com essa aceitação, pois comigo não teria vez: feito fagulha no feno, de repente incendiaria. Minha alergia a meios-termos seria fatídica para esses relacionamentos, aceitar o que me aflige, idem.

E a gente é mulher e, justamente por isso, se engana pensando que só porque é feminina tem charme de Miss e é capaz de mudar o mundo. Mundo esse, que quando visto pelas lentes de apaixonada, se torna praticamente um só: ele. Notícia ruim: não mudamos ninguém. A parte boa: nos relacionamos apenas com quem bem entendemos. Ou seja, ou conversamos e pequenas mudanças possíveis em prol de bons sentimentos são realmente efetivadas, ou, com o fator do sábio tempo, veremos aos poucos ruir as bases não tão sólidas construídas em cima de algo que foi se tornando frágil, e deixou-se de notar. O embrulho do estômago, a fadiga constante, a instatisfação crescente: sintomas presenciais, sinais de que o que era flor, tem se tornando então, apenas adubo.