quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Insatisfação crônica



Como manter a paz diante dos múltiplos desafios, das inúmeras inovações que precisamos, de todo e qualquer jeito ter para que estejamos dentro dos padrões que a sociedade tanto nos faz engolir? A pressa nos constrange superando a cada dia aquilo que recentemente conseguimos alcançar. Ou seja: o topo da montanha é interminável, a grama da vizinha, além de ser mais verde, é flo...rida, frutífera e com borboletas e beija-flores sobrevoando o ar ameno. Se tenho a bolsa do momento, me falta nos pés o sapato que é tendência. Assim que adquiro o vestido de caimento perfeito, e cor que favorece, noto a moça que na rua passa de terninho ajustado e calça jeans justíssima, salto alto nas alturas. Pensamento captado, sacolas ainda novinhas repousadas no colo: por que não eu? Num instante, a tal nova compra deixa de ser tão excitante como há cerca de meia hora atrás, assim que saí da loja.

Pinto o cabelo invejando as unhas cor de carmim da senhora chique de meia idade que deixa o salão de beleza. Se estou morena, quero a loirice. Quando loira, um lampejo de ser ruiva – de repente fica bom. Saio quente e grudenta pós depilação e meu desejo agora aponta o alisamento linear e perfeito (praticamente eterno) que a moça morena agora exibe. Adquiro pó e sombra com a vontade num novo delineador e no batom caneta vermelho que promete não sair mesmo horas depois de passado. Logo após da euforia e o cheiro de novo impregnado na sala da casa, o amor pelo novo computador. E a tristeza ao se olhar o telefone celular, e constatar – descontente - os pequenos arranhõezinhos e a velhice precoce do aparelho que uso para ligar, enviar SMS e sobreviver longe de casa. Quando na rua, almejo o friozinho breve do ar condicionado e a pele bem longe do suor; e já em casa, olho pela janela o belo dia lá de fora e o quanto está lindo o sol que agora se põe. Gostamos de ser solteiras, mas queríamos mesmo um namorado. Temos o melhor companheiro ao nosso lado, mas com os segundos impetuosos de liberdade já. Somos estes seres que querem a família por perto enquanto é tempo, mas contamos os dias para quando formos independentes e morar sozinha se faça nossa realidade. Umas confusas.

No resumo, mulheres que somos, precisamos da decadência antes de conseguirmos de fato a elegância. Que logo após, substituímos por o que quer que seja que nos deixe com o gostinho de coisa nova ou o frescor a cada dia. Vulneráveis, constantes apenas na própria inconstância, o importante é que nos conservemos desse jeitinho peculiar que somos: femininas.