quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dos horários


 São 5h da manhã, e quem me desperta é a insônia, companhia de longa data. Quase confidente. Eu poderia dar um jeito de meter meu braço embaixo do seu e apertar bem forte, dentro de um abraço desajeitado de quem apenas quer dormir de novo logo. Só que, do outro lado da cidade e sozinha, me resta rolar de um lado ao outro da cama, dobrar o travesseiro fininho pela metade o...u, destapar uma das pernas porque o calor se intensifica ao longo  dos dias que passam voando. Você longe, e o meu sono inquieto que estremece a cada vinte minutos e impede o descanso necessário das horas reparadoras. Toca o despertador e amanhece a cidade lá fora pontualmente às 6h55. Mais cinco minutinhos, aperto o botão "soneca" - que poderia muito bem se chamar "preguiça". Caso estivéssemos dividindo o mesmo lençol, espiaria o seu dormir infantil e profundo como quem quer decifrar pintura de museu, até que lentamente, voltasse também para o estado de descanso dos finais de semana e me aquietasse em sonhos. Poderia fingir que acordamos, e enrolar um pouco até que cinco minutos mais tarde o seu celular nos lembre que temos mais um dia corrido pela frente. Me contento com uma aparição sua no meio da manhã tumultuada, conectados não por um olhar ou toque, mas pela virtualidade mesmo.

Olho para o relógio do computador, 08h13 e vou trabalhar. Produzo, respondo cordialmente aos infinitos e-mails que recebo ao longo do dia, excluo os milhares de releases que pra nada servem, escrevo um pouco, entrevisto via telefone. Bate uma saudade de como somos juntos, assistindo a televisão e comentando aleatoriamente sobre tudo de estranho e bom que vemos. A sua fome que vive intensa de um sanduíche triplo ou dois simples, ou de um pedaço de bolo, café e tudo que seu estomago consiga ainda digerir. Melhoria dos humores ao longo de um singelo bom dia pela manhã. A realidade nos trai, cinco dias por semana, com a ilusão de outros quase três que costumam salvar o recomeço insuportável de cada segunda-feira pela manhã, ou os finais de domingo. Hora do almoço. Não tem você, nem eu rindo do tanto que você come. Nem eu depois do banho de sol, e você, da academia. Ou a gente no sofá antes ou depois de comer assistindo a um filme qualquer, dominados pela preguiça de sair pra rua e aproveitar o dia. Que fica pra mais tarde, se a lertagia da sexta não invadir primeiro. Por enquanto, apenas o cansaço de trabalhar e trabalhar, quando a vontade é ir deitar.

Já 15h45. Horário bom pra ver as lojas, passear em ruas sem destino, tomar sorvete, ou o tal vicio de açai que ambos possuimos, ou dar uma volta de carro, se instalar num parque, na praia, se tiver sol. Ou ver o futebol pela televisão, caso seja dia de jogo. Como uma barrinha de cereal e tomo uma garrafinha de água mineral para enganar esses pensamentos saudosistas de quem sente falta mas suporta porque cada 24 horas diárias tem me assaltado e corrido sem que consiga nem ao menos sentir. Rumo à universidade às 18h40, lembrando de que você certamente diria que está com fome e quer o café da tarde, ou colocaria uma pipoca no microondas com cara de quem já conhece meu comentário a respeito.

De repente 22h18 e, indo para casa, poderia estar com você. E meus pés entre os seus , a mão fixa na sua perna enquanto conversamos, as conexões distintas de um assunto a outro, e ainda outro. Ou temida hora de ir embora, ou alegre momento de apenas reiniciar a contagem dos momentos que passam rápido, mas ficam fotografados no álbum das memórias-perpétuas-significantes. Já sabendo que aí pelas 23h11 se inicia novamente o ciclo que ou é de roubar coberta, calor perto e frio distante, acordar sorrindo ou é de ler e ler e ler até pegar no sono, solitária após tanto afeto e mal acostumada em ter quem me faça dormir bem feito criança depois de mais um reencontro e rapidamente, deito. Com a melhor pessoa ao lado, ou a possível luta até que o cansaço me vença, faço da imaginação quando ele não está o melhor amigo imaginário possível: além de reavivar momentos ótimos, e fazer com que os ruins menores pareçam, deixa a ausência minúscula se comparada ao tanto de sentir por ele que carrego comigo.