sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Sumiço



Inesperadamente, ele sumiu. Atende o telefone apenas quando bem entende, responde quase nunca, e tomar a iniciativa em ligar de volta  ou a procurar, não faz. E tudo estava bem, você pensa. Era  o relacionamento dos sonhos: havia liberdade pro que se quiser e vier, o sexo era ótimo, e até onde você tinha noção, a convivência entre vocês, também. O beijo encaixava, o gosto musical na maioria das vezes, e eram fãs dos mesmos filmes. Você ria tanto quando juntos, que o fazia sorrir na maior parte do tempo também. Agora é a sua solidão atentando o celular a cada cinco minutos atrás de mensagens, o seu desespero checando de hora em hora as redes sociais e a melancolia de incompreender em que parte tudo pifou que nem momentos bons ou sentimentalidades conseguiram salvar o que vocês tinham.
Ele diz estar ocupado, mas passa horas atrás de um carro novo. Coloca a culpa nos familiares, que não colaboram. Nos amigos, que o chamam para mil e uma aventuras. Na faculdade, que anda chatíssima e com inúmeros trabalhos e provas. Ou mesmo, em você - caso tenham brigado, usou uma discussão que se resolveria facilmente entre quem quer ficar junto, e não se afastar cada vez mais, como estopim para zarpar fora. Daí que o rapaz pede um tempo, e você, paciente e amorosa, dá. E diz que irá ligar quando puder; o que reacende aquele tantinho de como era antes internamente. Ficar sem respostas e reações é complicado, eu sei. Porém, frente a um sumiço inesperado de quem deixa de se preocupar se estamos vivas, nos alimentando direitinho e felizes como manda a cartilha, o jeito é se ausentar do mundo, para submergir em si mesma - mesmo que, temporariamente.

Cafona, mas o tempo resolve. Decide nos mostrar o que não víamos, cegas de amor. Faz perceber a fraqueza e a covardia de quem despertou para vida e parou de enganar tanto a si mesmo, quanto aos nossos sonhos alimentados com palavras doces, elogios enganosos e atitudes exageradamente cordiais. Homens, quando somem, é por medo: de deixar que o rumo das coisas apresse, aperte e os prenda num cinto sufocante ao nosso lado. Simplesmente porque são fracos para encarar de frente a ilusão que os próprios teceram. Por pura percepção de que tudo estava ótimo, mas imaturo demais para se tornar maravilhoso. A má notícia é que reaparecem. A boa: quando estamos lindas, felizes da vida, e geralmente, acompanhadas por quem além de não sumir, não desgruda da gente.